E estamos de volta com mais uma entrevista. Desta vez, o entrevistado é Waldomiro Neto, ilustrador e designer gráfico, atuante em diversos setores, como editorial, publicitário e promocional, além de professor universitário(sim, ele fez facul!). Ele fala sobre seu início de carreira, como se manter neste mercado mega disputado, sua experiência como professor e ainda entra na questão do politicamente correto.
Chega de enrolações, vamos ao que interessa!
1 - Como foi seu inicio
de carreira na área de ilustração? O que o levou a trabalhar no setor?
Bom, como todo ilustrador sou do tipo que sempre desenhou
desde criança. Quando chegou a hora de fazer uma faculdade quis algo relacionado
com desenho, então fui fazer desenho industrial com habilitação em programação
visual ou simplesmente design gráfico.
Na faculdade eu vi que o design possibilitava muitos
caminhos e todos muito fascinantes. O meu curso na época (entrei em 1998), era
bem abrangente e tínhamos aula de design
de móveis, moda, embalagem, ilustração, história em quadrinhos entre outros.Mas por conta do gosto por desenhar eu fui buscando os
caminhos do design gráfico e acabei depois de formado trabalhando em agências
de publicidade, onde eu fiz um pouco de tudo, trabalhando muito com mídia
impressa e com desenvolvimento de identidades visuais. Lembro de passar o dia
todo dentro da gráfica para poder fazer prova de impressão, ou ainda diagramar
páginas e páginas de folhetos e tratar muitas fotos.
Logo após a faculdade fiz pós graduação em web design, na
época parecia o melhor caminho, web era a novidade do momento e até trabalhei um pouco na área mas percebi
logo que aquela não era a minha praia.
desde o início atuando como designer sempre dava um jeito de
colocar os meus desenhos nos trabalhos, e aos poucos os desenhos foram tomando
mais espaço, eu fui achando aquilo fascinante, gostando desse caminho e com o
tempo as oportunidades em ilustração foram ficando maiores e tomando mais tempo.
2 - Seu estilo de
desenho segue uma linha puxada para o infantil/cartoon. Em quais mercados você
atua e qual técnica costuma utilizar em seus trabalhos (digital, tradicional,
mista...)?
Lá no começo eu me intitulava como cartunista, tinha como
referência o Angeli, Glauco e Laerte, achava o máximo os quadrinhos deles e
queria trabalhar fazendo tirinhas, charges e quadrinhos.
Já fazia algumas tirinhas e também ilustrava alguma coisa pra um jornal ou outro, e continuava colocando meus desenhos nos trabalhos da agência sempre que dava, até que um dia tive a oportunidade de fazer algumas ilustrações para um livro didático. No começo foi complicado pois a linguagem dos didáticos é diferente da linguagem do cartum, apanhei bastante até conseguir pegar o jeito, e desde então tenho trabalhado bastante neste mercado.
Hoje faço um pouco de tudo, ilustrações para livros didáticos, paradidáticos e infantis, também ilustro para embalagens, materiais publicitários, promocionais e institucionais, como por exemplos cartilhas para empresas, também atuo no mercado das confecções produzindo ilustrações para estampas de camisetas e pijamas, faço charges e tirinhas para jornais e para web e também ilustrações para revistas.
Sobre as técnicas gosto muito de fazer tudo digital, utilizo bastante o photoshop e as vezes o painter e o corel, no papel mesmo somente os rascunhos para gerar as idéias, sempre ando com um sketch book para poder rabiscar.
As mesas digitalizadoras da Wacom, foram fundamentais e agilizam muito o meu
trabalho, tenho uma cintiq e também uma Intuos. Recomendo!
Costumo dizer que hoje ilustro 80% do meu tempo, porém ainda
atuo como designer gráfico e também lecionei diariamente na universidade de
2006 a 2012, atualmente estou apenas lecionando em cursos de pós graduação e
cursos técnicos que são mais esporádicos
.
.
Não decidi que iria ilustrar a maior parte do tempo, o
mercado que foi caminhando para esse lado e aos poucos tive que deixar outras
coisas um pouco de lado para poder dar conta dos desenhos, e isso pode mudar
também no futuro, vamos desenhando conforme a música.
Como disse, lecionei 6 anos diariamente no curso de Desenho
Industrial da Unopar em Londrina-PR, e também em outras instituições e escolas
técnicas.Ensinar é muito
bacana, a interação com os alunos é motivadora, ainda mais em um curso que é
bastante prático e criativo como o design.
Sobre as matérias, eu lecionava Desenho de Observação,
Composição Plástica, História em Quadrinhos, Projeto de Design e também era
responsável por um projeto de extensão sobre Quadrinhos.Nas pós graduações eu já lecionei disciplinas sobre StoryBord
e Animatic e também Ilustração Didática, tenho também um curso de Ilustração
digital que leciono na VTCOM treinamentos que é uma escola técnica de Londrina.
5 - Pesquisando
seu trabalho, vi em seu blog que você faz charges para jornais. Neste tipo de
trabalho qual o maior desafio: a idéia para desenvolver o tema ou os prazos
apertados?
Prazos apertados todo ilustrador está acostumado, acho que
todos que trabalham com comunicação estão sempre correndo contra o tempo.
No caso das charges o mais difícil é você conseguir expressar
um pensamento em desenho e ainda ter uma boa sacada para que essa charge seja
"genial", e isso não acontece todo dia, aliás, raramente a maioria
das charges são somente boas, algumas ruins e lá de vez em quando uma pode ser
dita que é muito boa!
6 - Hoje existe em
todo lugar e praticamente todas as áreas o famoso politicamente correto. Qual
sua opinião sobre isso? Até onde você acredita ser necessário este controle do
que é dito ou feito? Você já teve que refazer ou descartar algum trabalho por
que a idéia estava fora deste “padrão”?
Acho que precisa ter um bom senso em tudo, mas isso não quer
dizer que deva haver censura, o politicamente correto é muito chato.
Temos que saber para qual publico estamos desenhando, não vou ilustrar algo vulgar para colocar em um livro infantil e também não vou fazer algo todo fofinho para uma charge política.
Já tive sim que refazer alguns desenhos, adequar alguma coisa
para poder ser publicado, na hora você fica meio chateado em ter que alterar o
trabalho e da vontade de jogar tudo pro
alto, mas ninguém é dono da verdade, nem o ilustrador. É preciso conversar,
saber argumentar sobre a sua ideia e também saber ouvir.
7 - Como
ilustrador freelancer, é comum enfrentar períodos de baixa nas encomendas de
ilustração, principalmente no caso de quem trabalha com arte para livros
didáticos. Como você “se vira” nos períodos em que a demanda “dá uma esfriada”?
Didáticos é sempre assim, por conta do PNLD temos uma
correria pra fechar os livros para a licitações, e depois os mercado da uma
sossegada por uns meses, a idéia é diversificar fazer outras coisas ilustrar
para outros clientes de outros ramos, desse modo você vai administrando para
sempre ter trabalho.
Caso fique sem nada pra fazer, além claro de prospectar o que na realidade tem que ser feito o ano todo, o ilustrador pode também se dedicar a projetos pessoais até a entressafra passar.Claro que todo freelancer tem que ter uma poupança para os meses mais fracos, pois sabemos que é normal a oscilação da demanda seja qual for sua área.
Geralmente o ilustrador profissional trabalha no que gosta,
se realiza diariamente produzindo, criando novas cenas, testando novas
técnicas. Mas isso não quer dizer que seja divertido. Enfrentamos jornadas
longas de trabalho para dar conta de tudo, muitas vezes temos que pegar muitos
projetos para podermos ter um salário melhor.
Quando alguém me pergunta: mas então você passa o dia todo
desenhando? Eu sempre respondo: Não, eu só desenho na parte da manhã! A tarde
eu pinto tudo o que desenhei (RISOS)!
As pessoas têm uma definição que os ilustradores só brincam e
se divertem o dia todo, temos um desgaste mental muito forte, compor as
ilustrações, compreender os textos, fazer com que tudo combine, tenha uma
identidade e ainda ter calma, paciência e precisão para desenhar e finalizar
tudo, não é nada fácil.O desgaste físico também é complicado, pois ficamos muito
tempo sentados e tensos para poder desenhar, aos poucos tudo vai travando e
doendo.
Sobre o mercado, sempre pode ser melhor, mas não sou de
reclamar. Sempre achei que não importa o que você faça se você for bom naquilo
e trabalhar sério você será reconhecido e terá trabalho. Não gosto de ficar
reclamando que tem gente que cobra muito pouco que está roubando clientes e
isso prostitui o mercado. Acredito que tem espaço para todos, e existe um
processo evolutivo que cada um deve buscar para crescer profissionalmente ou
ficar a vida toda desenhando quase de graça.
9 - Que
características o profissional deve ter ou desenvolver (fora o desenho) para
entrar, crescer e se manter neste mercado tão disputado?
Acho que não tem receita, cada um segue o seu caminho. Quanto
mais você trabalhar, mais frutos irá colher. Existem ilustradores que são
autodidatas, outros arquitetos, designers, artistas visuais etc.O importante é investir em você, na sua formação, é
importante ter uma base sólida para que você consiga perceber as coisas ao seu
redor e refletir sobre elas. Para ilustrar é preciso sensibilidade e quanto
mais você estudar melhor será a sua.
Seja observador, curioso e criativo.Sempre digo, desenhe todo dia! Acho que produzindo estamos aprendendo cada vez mais e exercitando nosso talento e assim crescendo e buscando mais espaço nesse mercado como você mesmo disse, tão disputado.
10 - Muito
obrigado por esta entrevista. Pra encerrar, deixo este espaço para que você
diga, divulgue ou expresse o que desejar!
Eu que agradeço a oportunidade, fico muito feliz em
contribuir e de ter esse espaço para me expressar, espero que minhas palavras
possam ser úteis de alguma forma.
Quem quiser saber mais, estou sempre a disposição.
Meu email
é contato@waldomironeto.com
e também tenho minha fanpage no facebook: https://www.facebook.com/waldomironetoilustra
e meu blog: www.waldomironeto.com
Abraços e obrigado!
3 Comentarios
Clique aqui ComentariosConheço o Neto da época da Pós-graduação, além do cara ser parceiro tem um talento nato pra coisa, é ótimo quando você descobre a que veio nesse mundo, tem tantas pessoas que passam anos fazendo coisas que não gostam, mas o que ele disse é fundamental, faça as coisas com amor, se dedique que você terá um retorno, mas não faça isso procurando méritos e sim como uma proposta natural para ser sempre o melhor no que faz.
ReplyParabéns Neto, sou seu fã.
Grande Abraço
Grande Rodrigo! muito obrigado! você é um grande amigo! abraços!
ReplyParabéns Neto, sempre muito talentoso. Fico feliz por você!
ReplyForte abraço.